MÚSICA FRANCESA Meu nome é Ziyad, médico, e me tornei um amante da música francesa aos 12 anos, quando escutei pela primeira vez "Sous le Ciel de Paris", que passei a ouvir sempre no velho toca-fitas de meu pai. Ao longo dos anos, esse repertório, não apenas cultural, mas sobretudo emocional cresceu imensamente. Criei esse blog para compartilhar informações com todos aqueles seduzidos por essas chansons.
Nessa quinta-feira, dia 16 de maio, às 20 horas, vai acontecer uma noite especial no bar Mundo Mundano. Uma ambientação francesa com gastronomia desse país que fica do outro lado do mediterrâneo, e repertório ao vivo de Edith Piaf, Aznavour, Brel, Charles Trenet, Joe Dassin esperam por nós. A música será comandada pelo pianista Luciano Ruas e pela cantora Yvette Matos.
Mundo Mundano e curadoria de Arus Nozze estarão, nessa quinta-feira, resgatando o romantismo perdido para eu me sentir num cabaret parisiense. Um lugar digno de receber um Balzac, boêmio, glutão e que certamente faria desse Planeta Mundano sua própria casa em São Paulo, pois o Mundo Mundano é acima de tudo uma confraria literária que hoje, sem perder suas raízes nas letras, se transformou num bar com uma proposta cultural.
Há dois anos, li "Ilusões Perdidas" de Balzac. Testemunhei, ao longo das setecentas páginas, a luta de Lucien de Rubempré para vencer como um escritor na Paris do século XIX. Os salões dos intelectuais, as livrarias, as atrizes de teatro, as amantes, as carruagens, os alfaiates.
Um século depois, Charles Aznavour, na canção Je me voyais dejà, realiza o mesmo percurso de Lucien, abandonando a província para ter êxito na capital do mundo.
O que os protagonistas de Balzac e Aznavour possuem em comum? O devaneio, o desejo, a loucura de arriscar. O que encontram pelo caminho? As pobres refeições, os decadentes pensionatos, as mulheres temporárias, os cachês arruinados, a frustração. Seduzidos pela sociedade do espetáculo, ambos esqueceram o conselho de Sêneca de que "a gente só é feliz quando não cria expectativas." Como superam as derrotas da cidade grande? Com uma exagerada autoconfiança. Um lutando com sua pena até o fim, enquanto o outro com a sua voz. Conseguiram reconhecimento ainda em vida. Aznavour segue cantando com todo o seu vigor aos 89 anos, enquanto que Balzac, mesmo chegando ao fim da vida falido pela compra compulsiva de obras de arte, teve seu velório cheio de gente, representando tout le peuple de la Comédie Humaine.
A dix-huit ans j´ai quitté ma province Bien décidé à empoigner la vie Le cœur léger et le bagage mince J´étais certain de conquérir ParisChez le tailleur le plus chic j´ai fait faire Ce complet bleu qu´était du dernier cri Les photos, les chansons et les orchestrations Ont eu raison de mes économiesJe m´voyais déjà en haut de l´affiche En dix fois plus gros que n´importe qui mon nom s´étalait Je m´voyais déjà adulé et riche Signant mes photos aux admirateurs qui se bousculaientJ´étais le plus grand des grands fantaisistes Faisant un succès si fort que les gens m´acclamaient debout Je m´voyais déjà cherchant dans ma liste Celle qui le soir pourrait par faveur se pendre à mon couMes traits ont vieilli, bien sûr, sous mon maquillage Mais la voix est là, le geste est précis et j´ai du ressort Mon cœur s´est aigri un peu en prenant de l´âge Mais j´ai des idées, j´connais mon métier et j´y crois encorRien que sous mes pieds de sentir la scène De voir devant moi le public assis, j´ai le cœur battant On m´a pas aidé, je n´ai pas eu d´veine Mais au fond de moi, je suis sur d´avoir du talentCe complet bleu, y a trente ans que j´le porte Et mes chansons ne font rire que moi J´cours le cachet, j´fais du porte à porte Pour subsister j´fais n´importe quoiJe n´ai connu que des succès faciles Des trains de nuit et des filles à soldats Les minables cachets, les valises à porter Les p´tits meublés et les maigres repasJe m´voyais déjà en photographie Au bras d´une star l´hiver dans la neige, l´été au soleil Je m´voyais déjà racontant ma vie L´air désabusé à des débutants friands de conseilsJ´ouvrais calmement les soirs de première Mille télégrammes de ce Tout-Paris qui nous fait si peur Et mourant de trac devant ce parterre Entré sur la scène sous les ovations et les projecteursJ´ai tout essayé pourtant pour sortir de l´ombre J´ai chanté l´amour, j´ai fait du comique et d´la fantaisie Si tout a raté pour moi, si je suis dans l´ombre Ce n´est pas ma faut´ mais cell´ du public qui n´a rien comprisOn ne m´a jamais accordé ma chance D´autres ont réussi avec un peu de voix mais beaucoup d´argent Moi j´étais trop pur ou trop en avance Mais un jour viendra je leur montrerai que j´ai du talent
Chanson é uma palavra usada para designar qualquer canção com letras em francês. A palavra chanson se refere, mais especificamente, ao estilo musical surgido na França no período renascentista, basicamente vocal.
Convido a todos para assistirem ao show da cantora Sônia Andrade acompanhada por Thadeu Romano no acordeon nos dias 10 e 17 de abril no Madeleine Jazz Bar
Jean Ferrat (1930-2010) foi um compositor, cantor e poeta francês que, em 1979, compôs a música Le Chef de Gare est Amoureux. Esta música foi feita para os guardas da estação intimidados por crianças francesas que, viajando sozinhas de trem nas férias, ficavam chamando os guardas da estação de cocu (corno, marido enganado, em francês). Jean Ferrat, para homenagear, ou talvez proteger essas vítimas de crianças tão zombeteiras, criou essa bela música. Laissons glouglouter les égouts! Plaignez pas l'imbécile heureux. Le chef de gare est amoureux.
Quand il sort le matin d'la gareChacun sourit chacun se marreQuand il passe au milieu d'la rueChacun murmure il est cocu !Chacun chantonne il a des cornesSa connerie n'a pas de bornesChacun le croit dur de la feuilleChacun se met le doigt dans l'œil !Plaignez pas l'imbécile heureuxLe chef de gare est amoureux!Chacun raconte à sa manièreLes safaris de sa panthèreElle a la cuisse hospitalièreOui mais quand même elle exagèreTout le monde est passé dessusA part les trains bien entenduChacun décrit chacun relateSa façon de lever la patte !Plaignez pas l'imbécile heureuxLe chef de gare est amoureux!Chacun siffle la chansonnetteQuand on aperçoit sa casquetteIl est un peu bas-du-plafondIl a rien dans son pantalon !Cocu content laissons les direC'est la bêtise qui transpireEt de la bêtise il s'en foutLaissons glouglouter les égouts !Plaignez pas l'imbécile heureuxLe chef de gare est amoureux !Il n'a qu'une idée dans la têteLe train de neuf heur' cinquant'-septCar tout son bonheur en descendC'est une fille de seize ansElle est charmante elle est discrèteEt c'est dans un wagon-couchetteQue tous les soirs les deux amantsSe font un p'tit appartement !Plaignez pas l'imbécile heureuxLe chef de gare est amoureux!
Está acontecendo, essa semana na cidade de São Paulo, a Festa Internacional da Francofonia. O festival inclui várias programações culturais, como música, teatro, ateliês, cinema, exposições e debates.
Nesse último sábado, fui assistir ao tão esperado show no Otto Bistrot. O restaurante é muito acolhedor, situado numa casa enfeitada com peças ao estilo vintage, comandado por uma família. Não espere encontrar um catálogo com o cardápio. Ele está todo escrito na parede. Sentiu um clima europeu?
Conheci o show Allégresse e sua intérprete Tatiana Pereira. Sentei-me colado com a dupla que, ao longo da noite, nos fez sentir num pequeno cabaret do Quartier Latin, interpretando Piaf, Aznavour, uma nova versão de Voyage,Voyage (Desireless), composições da própria Tatiana, Zaz, Joe Dassin, e a canção "Águas de Março", de Tom Jobim, na versão francesa de Georges Moustaki.
Embalado pela voz e violão da dupla, acomodado numa mesa grudado com esse trio (sim, a Tatiana está grávida), eu quase alcancei o que é visceral.
Nesse próximo sábado, dia 16 de março de 2013, no Otto Bistrot, acontecerá o show ALLÉGRESSE Chanson Française. Esse show, que já teve quatro músicos em sua apresentação, reestréia agora numa versão de poche, mais reservada, com dois componentes: Tatiana Pereira, cantora, e Rafael Nascimento, violinista. Preparados para um repertório romântico como La Bohème, Ne me Quitte pas, Les Feuilles Mortes, La Vie en Rose, Eux de Mars (Tom Jobim)? É a primeira vez que vou assistir essa dupla e estou com muita expectativa. Prometo que, na próxima semana, vou postar outra vez aqui no blog sobre esse show, desde já imperdível para mim, baseado no que li sobre Tatiana Pereira em seu site www.tatianapereiracantora.com Ela nasceu em Minas Gerais onde estudou teatro. Foi parar em Paris em 1998 onde continuou a se dedicar às artes cênicas. Em 2001, estudou ópera chinesa em Taiwan. Em 2009, decidiu não abrir uma escola de francês, mas mergulhar na música. Já desenvolveu também o show "É um Luxo Só" em homenagem à Ary Barroso. A potência da arte nas veias para quem é filha de um pai que tem uma roda de samba em Minas. Já estou impressionado com essa cantora, só em conhecer a sua trajetória de vida.
Nicola Són nasceu em Paris, mas adotou a cidade do Rio de Janeiro. Descendente de armênios (lembrou de Charles Aznavour?), o cantor descobriu a música brasileira na adolescência ao ouvir "Lígia" de Tom Jobim, interpretada por João Gilberto e Stan Getz.
Aos 23 anos, aterrisou na cidade do Rio de Janeiro para expandir suas fronteiras sonoras.
Foi com a vivência adquirida sobre o Brasil, somada a noites regadas a batuque e boemia no bairro da Lapa, que Nicola Són gravou o CD Parioca. Nesse CD, a língua francesa requebra ao som do cavaquinho e do pandeiro. Um espetáculo que Nicola Són chamou de samba-chanson, o encontro musical entre Brasil e França.
PARIOCA (CD) / Nicola Són / Gravadora Tratore (O CD pode ser encontrado na Livraria Cultura por R$ 34,90)
Nessa última sexta-feira, dia 22/02, fui ver Bernard Fines no All of Jazz. Fines cantou acompanhado de um trio. A noite reservou um repertório francês em ritmo de jazz, bossa nova com sotaque dos Pirineus, e inclusive alguns clássicos brasileiros cantados na língua de Victor Hugo. Sentir de perto Bernard Fines soltar “Meu Bem Querer” de Djavan em francês traz muita paz.
Enquanto Fines cantava, eu tentava adivinhar como veio parar em nosso país. Sem material sobre ele, comecei a inventar a sua história. O bisavô era português que migrou para Recife, tornou-se um latifundiário, se envolveu com uma índia e tiveram quatro filhas. Uma delas, a avó de Bernard, conheceu um francês pagão cuja penalidade, por não ser católico, era morar numa colônia na América do Sul. Ambos embarcaram para Toulousse quando a pena foi revogada. Duas gerações após, o neto se forma em antropologia e, influenciado pelos estudos de Lévi Strauss, retorna ao Brasil para se conectar com a matriz da avó cabocla.
Em poucos instantes, devolvi com facilidade um passado ao artista cuja vida eu tentava encaixar numa lógica, como se eu tivesse abortado em mim “as linhas de fuga” deleuziana. Após uma taça de champagne, a gente pode criar qualquer coisa. Quase pedi uma dose de vinho verde depois. Ando cercado de Pernambuco no último mês. Estou no meio da leitura de “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre, iniciando-me na linguagem nativa de “Boi sem Asas” da escritora Nina Maniçoba (de Floresta-PE) e sacudido com a recente descoberta de Kleber Mendonça Filho (diretor do filme “O Som ao Redor”). Preciso conhecer com urgência Recife e suas pontes abençoadas de gente interessante.
Ao final da apresentação, o depositário de todas as minhas confabulações sentou-se à nossa mesa. Teria sido essa uma atitude para desmontar a minha imaginação? Naquela hora, pude entrar em contato com o mundo real, concreto, único lugar onde as coisas se tocam de mentira. A sensação produzida pela arte pode, às vezes, ser a nossa única verdade. Na proximidade com monsieur Bernard, ele mostrou o quanto é simpático, nem parece francês. Confessou que a alegria das pessoas no Brasil é a parte mais atraente. Um povo sorridente, apesar dos problemas. Ao me lembrar da sua interpretação de Djavan, cheguei a pensar que o cruzamento não foi com uma índia, mas havia sangue negro esparramado. Eu me esforçava para dar corpo à história que eu tinha inventado minutos
antes.
O músico contou-me, ao final, que veio morar no Brasil para trabalhar como engenheiro no Paraná, mas sempre foi um apaixonado pela riqueza da música brasileira, sobretudo por Caetano Veloso, Tom Jobim, Milton Nascimento e Chico Buarque. Comentou o quanto a música brasileira é vasta em acordes.
Bernard Fines é prodigioso em fazer acordos com acordes. Um francês disfarçado de mestiço, sintetizando toda a pluralidade de encontros. Um casamento que deu certo. Só faltou o cartório. Où est le maire ?
BOI SEM ASAS, de Nina Maniçoba Ferraz, Dobra Editorial, 2012
Bernard Fines é nativo de Toulouse. Mudou-se para o Brasil em 1992 para trabalhar como engenheiro. Em 2003, deu início à carreira como músico profissional. Cantor, compositor e músico (toca piano, violão, contrabaixo). Enquanto que para Proust os belos livros estão escritos numa espécie de língua estrangeira, é na língua materna que Fines começa registrando a intensidade do encontro, ao interpretar clássicos de sua pátria com arranjos de jazz.
Bernard lançou em 2008 o CD “Sous le Ciel de Paris” (Delira Música) onde canta renomadas canções como La Bohème (Aznavour), Que reste-t-il de nos amours (Charles Trenet), Ne me quitte pas (Brel), Comme d’habitude (Claude François), C’est si bon (Yves Montand), Les feuilles mortes (Jacques Prévert), etc.
Bernard Fines & Júlio Bittencourt Jazz Trio se apresentam nessa sexta-feira, dia 22 de fevereiro, às 22 h 30 min , na casa All of Jazz. O local é bastante enxuto, acomoda 50 pessoas sentadas em um único e pequeno salão, proporcionando um clima mais intimista entre quem toca e quem ouve. No andar superior, há uma sala recheada de CD’s só de jazz e bossa nova, com três mil títulos à venda. Antônio Augusto Deleuse, dono do bar, diz que “quanto aos CD’s, compro e ponho à venda os que quero para mim.” Deleuse, ex-engenheiro da Rhodia, uma vez me falou, brincando é claro, que sonhava em abrir um bar onde ele pudesse beber sem pagar. Um devaneio que tem marcado a diferença na Vila Olímpia há 18 anos.
Et rien qu'une chanson Pour convaincre un tambour" Jacques Brel
"A desterritorialização enfraquece o reinado da arte em oposição à vida,
promove o encontro entre vida e arte,
onde uma e outra se tornam indiscerníveis." Deleuze
Jacques Brel, apesar de uma infância e juventude burguesa em Bruxelas, cantava os pobres, os tímidos, os frustrados, os desesperados, os vencidos, proclamando que toda a gente precisa de ternura. Em 1956, enquanto se acentuava a Guerra de Independência da Argélia, Brel escreve “Quand on n’a que l’amour”, que testemunha a própria oposição do cantor à guerra. Ao pequeno belga que leu na escola Victor Hugo e Albert Camus, não faltou imaginação para dar voz aos oprimidos do norte da África. Nessa canção, observa-se a técnica de canto utilizada por Brel, o crescendo, onde se aumenta progressivamente o volume e a dinâmica da canção. Em “Quand on n’a que l’amour”, o seu crescendo e final explosivo serão retomados em outras composições e ficarão conhecidos como “crescendo brélien”. A soberania de uma voz e de um violão nos convocam, no último verso dessa música, para a grandiosidade da ternura. Alors sans avoir rien Que la force d’aimer, Nous aurons dans nos mains Amis, le monde entier
Quand on n'a que l'amour
Paroles et Musique: Jacques Brel 1956 autres
Quand on n'a que l'amour À s'offrir en partage Au jour du grand voyage Qu'est notre grand amour Quand on n'a que l'amour, Mon amour toi et moi Pour qu'éclatent de joie, Chaque heure et chaque jour. Quand on n'a que l'amour Pour vivre nos promesses Sans nulle autre richesse Que d'y croire toujours Quand on n'a que l'amour Pour meubler de merveilles Et couvrir de soleil La laideur des faubourgs Quand on n'a que l'amour Pour unique raison Pour unique chanson Et unique secours Quand on n'a que 'amour Pour habiller le matin Pauvres et malandrins De manteaux de veloursQuand on n'a que l'amour À offrir en prière Pour les maux de la terre, En simple troubadour Quand on n'a que l'amour À offrir à ceux-là Dont l'unique combat Est de chercher le jour Quand on n'a que l'amour Pour tracer un chemin Et forcer le destin À chaque carrefour Quand on n'a que l'amour Pour parler aux canons Et rien qu'une chanson Pour convaincre un tambour Alors, sans avoir rien Que la force d'aimer, Nous aurons dans nos mains, Amis, le monde entier